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Parole

A Morte em expressões populares!

Por Edgar Talevi de Oliveira

 

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  O eufemismo é uma figura de linguagem muito usada para tornar um enunciado eminentemente “pesado” menos agressivo, mais brando ou agradável. Está presente em nosso dia a dia sem que paremos para pensar nele. Esse recurso estilístico é constantemente associado à polidez.
   Um exemplo de fácil verificação é quando necessitamos anunciar a morte de alguém. Para que não nos sintamos inconvenientes, nossos antepassados criaram diversas formas muito singelas, comuns, vindas do imaginário popular para suavizar a informação de modo a torná-la menos inóspita.
   Vamos a algumas expressões mais conhecidas:
   Abotoou o Paletó: Designa a morte de alguém, evidentemente. Sua origem é brasileira e se trata de uma variação de outras tradicionais expressões que serão vistas nesta crônica. Todas, portanto, contêm verossimilhanças. Exemplo de uso na frase: O sujeito era ótima pessoa, mas, infelizmente, abotoou o paletó!

 

   Bater as Botas: O povo brasileiro é riquíssimo em criatividade e não deixou de nos legar mais uma expressão de uso comum para evidenciar a presença da morte. Exemplo de uso na frase: O paciente foi insistentemente assistido pelo médico, mas não teve jeito; bateu as botas! A origem, no entanto, difere um pouco das demais expressões daqui constantes, pois possui o significado de morto adulto, do sexo masculino, que tenha o costume de andar de botas ou, ao menos, calçado. Ou seria mero preciosismo? Melhor não procurarmos maiores explicações!
Esticou as Canelas: É uma variante muito mística, pela qual, segundo a lenda, o morto, à meia-noite, acaba se esticando. Na verdade, a explicação mais cabível é que, depois de algum tempo, os pés do morto se distendem para dentro e para baixo. Exemplo na frase: Logo ao início do novo dia, o morto esticou as canelas!
   Partiu desta para Melhor: Quem crê em continuação da vida após a morte, certamente encontra alívio nesta frase. O estilo é mais sofisticado que as demais
expressões contidas nesta crônica, já que subentende um desfecho favorável ao morto. Exemplo na frase: Estava a sofrer; partiu desta para melhor!
Fingir-se de Morto: De origem desconhecida, a frase carrega o significado de um disfarce de que não se está ouvindo ou entendendo alguma situação ao redor de si. Não necessariamente se trata de morte, mas de um disfarce, um dissímulo. Exemplo na frase: Ele estava sem querer que se percebesse sua presença, portanto fingiu-se de morto!
   Sabemos, senhores leitores, que morrer tem múltiplos significados, e cada um deles carrega um cabedal de plurais entendimentos que, a depender de seus muitos contextos, transformam a comunicação. Destarte, bem viva mesmo é a intenção linguística de todo enunciado, pois não há nulidade em um excerto. Nenhuma linguagem é neutra ou inerte.
   Celebro, como epílogo, as doutas palavras de um de nossos maiores cronistas, FLÁVIO MADALOSSO VIEIRA NETO que, com avidez na escrita e robustez em tudo que cria por meio de suas suculentas frases, recria nosso mundo em um contexto que não foge à realidade da morte, mas segue em busca das pessoas em sua nueza da alma, na riqueza da vida, e no bem de existir:
   “É! Segundo o Ataliba, a vida era bem mais calma, e casos como este eram muito raros, porque a mentalidade do povo era diferente, as próprias atitudes humanas eram mais humanas e mais sadias, sem muita malícia e mais respeitosas(...)!”
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Edgar Talevi de Oliveira, licenciado em Letras pela UEPG; pós-graduado em Linguística,  Neuropedagogia e Educação Especial; bacharel em Teologia pela UNINTER; mestre em Teologia pelo SETEPE; membro da Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes; autor do livro Domine a Língua - o novo acordo ortográfico de um jeito simples, em parceria com Pablo Alex Laroca Gomes; autor do livro Sintaxe à Vontade - crônicas sobre a Língua Portuguesa; professor de Língua Portuguesa do Quadro Próprio do Magistério do Estado do Paraná; revisor profissional de textos acadêmicos; e articulista de diversos jornais municipais e estaduais.