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CONVERSAS ESPECIAL CENA UM

Newton Schner Junior

Ele rompeu as fronteiras da 'terra brasilis'

por Eduardo Gusmão

 

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    Santo de casa pode até não fazer milagre por aqui, caso de muitos talentos em diferentes áreas de atuação que não romperam as fronteiras do Rio Tibagi. Mas como toda regra tem suas exceções, há de se destacar a carreira do músico, pianista e escritor ponta-grossense Newton Schner Júnior, que se consagrou como melhor intérprete do Prêmio Rádio MEC 100 Anos, com a composição de sua autoria Passeggiata Di Domenica (Passeio de Domingo), na categoria música clássica, em setembro último (Sala Cecília Meirelles, Rio de Janeiro). Antes dessa premiação, porém, Newton foi exceção à regra absoluta, quando de sua eleição para a Academia de Letras dos Campos Gerais (ALCG) em 2012, passando a ocupar a Cadeira 16, em sua plena juventude de 26 anos.
   Em sua precoce carreira como literato e músico autodidata, mesmo porque “de poeta e louco todo mundo tem um pouco”, Newton Schner Júnior foi conquistando espaços com sua criatividade em textos publicados em livretos por conta própria, assim como se apresentando em concertos de piano inspirados pela sua música, que começava a se

 

revelar e agradar plateias pelo Brasil e mundo afora. Seu projeto musical Lebensessenz, lançado em 2004, começou a repercutir pela Europa, especialmente na Alemanha, quando ele ingressava em sua maioridade, provocando alguns críticos e despertando públicos como “nasce uma nova estrela da música clássica contemporânea”.

 

DE VOLTA À COLÔMBIA

 
   Sem a merecida projeção pela mídia à música clássica, mas cada vez mais empolgado pelos convites para apresentações, Schner Júnior continuou a compor e marcar presença no exterior, a exemplo de sua primeira turnê pela Colômbia em 2017, onde realizou cinco concertos e mais uma apresentação no Equador pela proximidade na ocasião. Seis anos depois, Newton desembarcou em solo colombiano, mais precisamente em San Juan de Pasto (outubro de 2023), atendendo convite do seu manager Daniel Holguin, com a gravadora Cocorota e Au Design. “Foi também um convite para se integrar ao Festival Internacional Rock X La Vida”, conta ele, ao acrescentar que, “por incrível que pareça, depois do Brasil e da Alemanha, a Colômbia é o lugar onde mais tenho ouvintes.”
   Além da cidade de Pasto, Schner Júnior se apresentou em Medellín e Bogotá, a capital, ocasião esta muito especial para ele, pois foram os últimos concertos em 2023, ao mesmo tempo em que aproveitou para lançar dois novos trabalhos (em CD e uma versão em vinil), assim como seu primeiro livro de partituras, marcando praticamente 20 anos de seu trabalho como músico e compositor. Em todas as apresentações, segundo ele, a receptividade do público colombiano foi a melhor possível. “Até me senti celebridade, pois muita gente foi aos teatros com camisetas do Lebensessenz, levando os mesmos CDs que eu autografei, quando estive por lá em 2017”. Enfim, conforme relata Newton, muitas fotos e autógrafos marcaram a temporada da segunda turnê pela Colômbia.

 

   Depois do término dos concertos, o pessoal ficava conversando comigo por horas. Em Bogotá, fomos até de madrugada. Em Pasto os funcionários do teatro quase precisaram expulsar a gente de lá, porque a entrada continuava lotada quase duas horas depois do término do evento, do jeito que eu gosto. O tratamento foi tão especial que eu até me perguntava se merecia aquilo tudo. Os espaços, a estadia, a alimentação. Mesmo das roupas eles cuidaram, pois fui patrocinado com vestimentas de gala especialmente para o concerto final. Até arranjaram um piano para que eu ficasse ensaiando no hotel, imaginem. Quando estávamos saindo do apartamento em Pasto, eis que apareceu o dono com um piano impresso em 3D, queria que eu levasse o presente como uma lembrança da cordialidade da região. Ganhei até mesmo um quadro com uma pintura do meu rosto, com assinatura e tudo mais. Enfim, são muitas histórias.   
   Ademais, no concerto em Medellín ainda tive uma palhinha a quatro mãos com o diretor de uma escola de música, enquanto que em Bogotá uma cantora lírica, que estudou canto na Noruega, se ofereceu para musicalizar uma composição minha. E disse que se depender dela, seguiremos por essa direção com um trabalho em conjunto.
Como encerramento da turnê ainda fui presenteado pelos organizadores do concerto em Pasto com uma estadia em uma cabana alcançável apenas de barco, em Laguna de la Cocha.
   Como eu levei o meu diário que tem uma parte especial, muitas pessoas deixaram os seus testemunhos sobre o que acharam das apresentações (a seguir deixarei a transcrição de alguns comentários).   
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   Tive também entrevistas para a televisão e para a rádio. Ainda participei de um podcast em uma rádio universitária e de uma mesa-redonda para falar sobre o futuro da música independente. E ainda fui convidado a visitar uma prisão para menores infratores, sentei-me junto deles e conversei por horas sobre música, sobre o Brasil e o mundo, eles me encheram de perguntas, aproveitei para falar sobre o quanto a minha adolescência também tinha sido cheia de altos e baixos, e no final uma cena quase que de filme: eu tocando num pianinho justamente dentro da prisão e todo o pessoal em volta escutando atentamente.
   Muita coisa legal aconteceu por lá. Por exemplo, um cara apareceu no concerto em Pasto e disse que costumava escutar muito as minhas músicas junto com o seu pai, que já faleceu, o qual esteve presente no concerto de 2017. Em Bogotá encontrei muita gente falando alemão, português do Brasil e até norueguês. Ganhei muitas coisas de presente, como CDs, livros, fotos e até um quadro. Tive muitas visitas guiadas onde o pessoal fazia questão de contar tudo sobre a história da região, o que transformou a turnê em uma verdadeira imersão cultural. Provei muita culinária típica, viajei bastante por dentro da Colômbia, conversei com as pessoas, fiz contatos, fui até a um treino de Jiu Jitsu e senti a falta de gás ao treinar a quase 3.000 metros acima do mar. Em Pasto, dediquei a última música do concerto a uma senhora avó de um dos organizadores, a Dona Alice. Em 2017, quando estive lá pela primeira vez, ela me recebeu com uma amabilidade como se eu fosse da família, sempre me chamava de “mi hijo”, o contato seguiu por whatsapp quando voltei para o Brasil, e infelizmente ela veio a falecer. A família me disse: “Ela sempre perguntava por você”, então o mínimo que eu poderia fazer era dedicar o concerto à sua memória. São várias coisas que vão tornando a turnê mais especial. Por exemplo, quando meu amigo Daniel esteve em contato pela primeira vez comigo ele seria pai, dessa vez ele será pai outra vez e eu lembro que sua mulher disse que sentiu chutes na barriga justamente durante o concerto. Até mesmo os sogros de um amigo da Noruega, que foi quem criou pela primeira vez uma fanpage do Lebensessenz no Facebook, estiveram presentes no concerto em Medellín.
   O repertório, como sempre, foi do Lebensessenz.
  A ideia é que se tudo correr bem, nos próximos anos voltarei para lá. Já me prometeram até um concerto acompanhado de orquestra, vamos ver!
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CONFIRA "CENA DOIS", COM NEWTON SCHNER JÚNIOR, NAS PRÓXIMAS SEMANAS.