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Conversas NO TIPO!

Newton Schner Jr. entre as 25 melhores composições de música clássica pelo Prêmio Rádio MEC 100 anos

por Eduardo Gusmão

 

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  Ponta-grossense de talento dos mais notáveis por sua desenvoltura como músico e literato,  Newton Schner Júnior, em sua meio juventude adulta aos 37 anos, acaba de nos contemplar como um dos 25 classificados pelo Prêmio Rádio MEC 100 Anos, na categoria de ‘música clássica’. Considerada como a maior rádio desse gênero musical no Brasil, a emissora administrada pela EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) convida a população brasileira para a Votação em Música Clássica às composições selecionadas, em segunda etapa, que ainda deverá ter um terceiro e último momento classificatório. Na parte que nos diz respeito, isto é, a torcida se faz agora para a composição de Newton Schner Jr., intitulada Passeggiata di domenica (Passeio de domingo), que poderá ser votada clicando

 

https://inscricao-premio.ebc.com.br/index.php/246232?lang=pt-BR ou ainda pelo site rádios.ebc.com.br / Prêmio Rádio MEC 100 Anos.

         Falar de Newton Schner Jr., ainda agora, até dispensaria mais alguma apresentação e até novos comentários, mas se torna indispensável atualizar sua performance pelo cenário artístico-cultural ponta-grossense e regional, pelo fato de que aqui ainda não se cultiva a cultura do santo que faz milagre, mesmo porque a Cultura, de modo geral pelos brasis afora, sempre figurou em segundo e até em terceiro plano, no vaivém de gestões pelas três esferas governamentais. Nos últimos anos, entretanto, Ponta Grossa tem vivenciado bons momentos em políticas públicas culturais, especialmente ao longo deste ano em que a cidade comemora 200 anos de emancipação política, embora haja controvérsias entre historiadores de plantão. Apesar da pandemia reinante por dois anos intermináveis, brasileiros de Norte a Sul, Leste a Oeste, mesmo aqueles não tão chegados, tiveram a oportunidade de conviver mais de perto com a produção cultural Brasil e mundo afora disponível em seus diversos segmentos. Mesmo assim, muitas vidas se perderam pelos quatro cantos do planeta, embora a humanidade, de modo geral, tenha permanecido mais em casa e dado a devida importância ao Cinema, Literatura, Música, Teatro, Televisão, etc.

 

 TNOT – Enquanto isso, artistas como Newton Schner Jr., membro integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais (Cadeira 16), aproveitaram a temporada sabática compulsória para se inspirar e repensar em novos projetos lítero-musicais.  Alguma novidade em relação a turnês pelo Brasil e exterior?  

   NEWTON - Por enquanto, nada. Estou mais concentrado em finalizar um novo álbum, então, os concertos estão em segundo plano, até porque tenho ideia de fazer algumas poucas apresentações acompanhado de outros instrumentos (violino, cello, quem sabe até um quarteto de

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cordas). Há alguma coisa ali e ali planejada fora do país, mas nada concreto, pois a prioridade por ora é acertar os ajustes finais do álbum novo. Eu, da minha parte, adoraria poder tocar em novos lugares, ir para regiões que ainda não conheço nesse nosso Brasilzão. Vamos ver por onde esses caminhos ainda me levarão...

  TNOT - Sua vocação para a música e a literatura: a música surgiu primeiro ou foi seu talento para escrever? Quando foi esse momento, há quanto tempo?

   NEWTON - Difícil dizer. Desde novo, eu gostava de tentar escrever e tocar. Tudo começou na adolescência. Eu queria começar a escrever resenhas e entrevistar bandas, ter blog, trocar cartas com o pessoal de fora, ao mesmo tempo em que criei as minhas primeiras demos de piano. Deu no que deu. Isso me acompanha até hoje, como uma brincadeira de gente adulta. É, de qualquer maneira, uma combinação muito interessante. Por vezes uma única peça de poucos minutos tem a capacidade de expressar tudo o que eu não conseguiria dizer com páginas e mais páginas, do mesmo modo que um escrito curto pode ser mais preciso que um álbum inteiro. De qualquer forma, são duas vias de expressão que se completam. Onde uma começa, a outra termina.

   TNOT - Desde então, quantos CDs já gravou, alguns livros ou publicações? Cite alguns de seus trabalhos mais relevantes ou importantes pra você.

   NEWTON - Entre demos, álbuns e coletâneas, tenho quase 20 trabalhos de piano. De livros tenho cinco feitos de maneira caseira e mais uma porção de escritos espalhados por jornais, blogs e redes sociais. Meu último livro, que ainda não saiu em formato físico, resgata o trabalho artístico do meu pai, o saudoso Dr. Schner, cujo escasso tempo livre era dedicado à pintura, às leituras e às invenções. Eu estou sempre escrevendo coisas novas, esqueço de compilar e transformar em livro. Tenho praticamente um livro inteiro sobre literatura norueguesa, outro com ensaios de cultura alemã, falta tempo de compilar isso tudo. Já em questão de música, cada álbum reflete uma imersão. Existem álbuns fortemente influenciados pelo romantismo alemão, outros inspirados em elementos regionais, e ainda outros em memórias e sonhos. Sei que o meu foco todo está voltado para o novo álbum, que, se tudo correr bem, há de superar tudo o que foi feito anteriormente.

    TNOT - Como seu nome como compositor e pianista ganhou projeção no exterior?

  NEWTON - Apesar da aparente timidez em algumas situações, eu sempre tive certa facilidade para fazer contatos. Na adolescência, eu tinha uma gravadora underground e pouco a pouco fui mantendo contato com o pessoal de fora, e assim a coisa foi seguindo um fluxo natural. Depois dos lançamentos no exterior, vieram os primeiros concertos e as primeiras turnês e mais convites. Tudo sempre muito simples e marcante. Agora, uma coisa meio frustrante, quando o assunto é turnê no exterior, é quando um ou outro desavisado, que não sabe como funciona o mundo da música independente, quer saber única e exclusivamente se ganhei muito dinheiro fora. Que besteira. As experiências são a grande recompensa. Eu mesmo fui financiando as minhas viagens ao longo dos anos, ficando na casa das pessoas, vivendo estilo mochileiro, fazendo contatos e procurando mais lugares para tocar, e assim tudo foi seguindo. Criar elos de amizade e ter o carinho das pessoas que chegam a cruzar estados ou países para assistir o tal Lebensessenz ou o "cara lá de não sei onde do Brasil" é fantástico. Nunca vou me esquecer de ter vendido quase 200 CDs na noite do primeiro concerto na Alemanha, ou ter sido acompanhado por várias pessoas do público até a estação de Odessa na Ucrânia, ter visto gente chegando com coleções inteiras em CD, cassete e até vinil, cartas, fotos e presentes dos mais diversos, falando-me nas mais diversas línguas, fazendo covers e até tatuagens em homenagem ao meu modesto trabalho de piano, para depois de tudo alguém só querer saber se ganhei muito dinheiro tocando...

  TNOT – Do seu novo clipe, aqui apresentado, vai rolar algum novo trabalho ou álbum? Caso sim, já tem título esse trabalho?

   NEWTON - Meu novo álbum está praticamente finalizado. O clipe em questão, que leva o nome de Araukarien, foi produzido pelo diretor de vídeo Paulo Favero. O vídeo é um tributo musical ao nosso símbolo regional imponente, a araucária, bem como à nossa esplendorosa paisagem. Foi um clipe com registros dos Campos Gerais. Araukarien contou com a participação do violinista curitibano Marco Borgonhoni. O título do próximo álbum ainda não foi definido, talvez seja a última coisa a ser feita.

   TNOT - Como você classifica seu trabalho ao piano? No Brasil, existe mercado para a música clássica?

  NEWTON - Costumam chamar o que eu faço de música "neoclássica", "romântica", "neoromântica", "minimalista", enfim. Digo só que é música de piano. Popular não é, mas bem clássico também não. Sobre o mercado da música clássica, eu não tenho muitas informações, estou completamente por fora para falar a verdade. Sei apenas que, infelizmente, pouco é o espaço para compositores nessa área. Vez ou outra um edital, um concurso de música, mas acho que é pouco. Penso que o Brasil tem potencial demais para ficar limitado sempre a reproduções. Mas antes que se exija qualquer coisa de fora, o mais importante é despertar nos próprios músicos a vontade de compor. Conheço inúmeros casos de ótimos pianistas que circulam aqui pela região e que muito secretamente apresentam suas composições. Vai daí que precisamos levar esse pessoal aos palcos!

   TNOT - Uma pergunta que não quer calar: Você acha que Ponta Grossa é uma cidade onde talento é punido e a mediocridade premiada?

   NEWTON - Primeira vez que escuto isso, sinceramente. Bem, depois desses anos todos, eu vejo que as coisas daqui são como em muitos outros lugares. Sei que a velha história do "santo de casa não faz milagre é verdade, mas não se aplica somente a Ponta Grossa. O perfil que eu vejo é bem diversificado: na atualidade, há quem de fato esteja colhendo um reconhecimento em vida, há quem pouco a pouco vem ganhando nome de modo merecido, há quem queira pertencer às "panelinhas" para estar em alta, há quem não dá as caras e reclama pelos cotovelos, há quem simplesmente está na luta e consegue contornar as circunstâncias externas para criar as melhores maneiras de vender o seu peixe. Depender da aceitação dos demais, dos espaços, das gestões, do contexto atual, deve, no fundo, ser secundário. É óbvio que quanto mais facilidades, melhor. Não estou dizendo com isso que não se deva lutar pelo que se faz. A arte, a música, a Cultura, enfim, isso tudo depende de espaços públicos. E, ademais, um pouco de reconhecimento sempre faz bem ao coração. Mas o ponto principal é saber o quanto você está disposto a seguir adiante, acreditando no que faz. Se as portas se fecharem para você por aqui, pode até mesmo ser que o seu futuro não esteja nesta cidade, nem neste estado ou até neste país. Ou então que você possa ser justamente o pioneiro daquilo que sente falta, são contextos assim que dão vida aos agitadores culturais.

   TNOT - Enfim, acrescente aquilo que talvez tenha me esquecido de perguntar e que você achar relevante para essa entrevista, okey?

   NEWTON - Agradeço a oportunidade, caro amigo e confrade Gusmão. Obrigado pela atenção, por você sempre ver qualquer relevância nas coisas que faço, por abrir o espaço do seu portal da mesma forma com que por tantas e tantas vezes você me acolheu em casa, por ser esse comunicador inquieto e incansável que você é.

 

Newton Schner interpreta ao piano Araukarien, em clipe produzido pelo diretor de vídeo Paulo Favero, contando com a participação do violinista Marco Borgonhoni