Uma biografia
uma grande aventura
Há alguns anos, quando tive a ideia de unir as entidades culturais independentes, como academias, centros de letras, institutos e associações para criar o Observatório da Cultura Paranaense, não me ocorreu que as academias de segmentos profissionais, como a dos odontólogos, engenheiros, médicos e outras pudessem ter interesse em se associar à nova entidade que surgia.
Certa manhã, lá no início da pandemia, toca o telefone e do outro lado da linha apresenta-se o presidente da Academia Paranaense de Odontologia. Não o conhecia, mas passei a conhecer suas credenciais: neto de Júlio Estrella Moreira, figura de destaque no meio cultural do Paraná, dentista, médico, historiador, primeiro ocupante da Cadeira nº 14 da Academia Paranaense
de Letras. Seu bisavô trazia o nome de Fernando Augusto Moreira, o professor, lendário educador que veio para Curitiba atuar como jornalista, quando a cidade vivia tempos de reconstrução depois da razia promovida pelas tropas de Gumercindo Saraiva, em 1893/94, e a jovem província prometia um futuro digno aos migrantes que por aqui se aventuravam. Fez história como proprietário da Escola Republicana e, mais tarde, no Colégio Progresso.
Foi o que me disse André Moreira Rodrigues, o interlocutor daquela manhã. Consumimos uns 30 minutos de créditos telefônicos trocando informações, como suas atividades na área da cultura, sua extensa relação de trabalhos científicos publicados e o interesse por uma área, a princípio, distante do ambiente cultural, qual seja, a velocidade sobre rodas. Inventor, ao lado da esposa Caroline, construiu um automóvel destinado a quebrar recordes de velocidade extrema, aqueles desafios disputados em ambientes inóspitos
em que a principal qualificação para o piloto é a coragem.
Lembrei-me de Sílvio Romaguera Neto, historiador, meu antecessor na Cadeira nº 2 da APL, que unia seu interesse na história paranaense à paixão pelos automóveis antigos.
Já André Rodrigues incorpora em sua vida diversas paixões. À família, à odontologia, à vida associativa e às velocidades inauditas, dedica-se ainda às pesquisas sobre seus antepassados, especialmente o bisavô acima referido.
Fernando Moreira segue sendo cultuado. Muitos escreveram sobre ele, como Maria Nicolas e Valfrido Pilotto, seu ex-aluno, outro componente histórico da nossa Academia de Letras. As novas gerações talvez conheçam o velho professor por dar nome à rua dos chorões, a rua do rio que traz na nomenclatura oficial da denominação de Rua Professor Fernando Moreira - por coincidência, é a via em que se situa o Centro de Letras do Paraná, entidade pioneira na área da cultura no estado e dirigida por seu filho Júlio no biênio 1960/61.
Fernando Moreira foi muito mais do que o padrinho de uma alameda.
Sua vida se equipara a de um apóstolo. Não era apegado aos valores materiais, oferecia educação gratuita, fazia parte da irmandade encarregada de manter a Santa Casa de Misericórdia e defendeu os descendentes de alemães de acusações durante a 2ª guerra, sem deixar de lutar a favor da causa aliada. Um homem respeitado pela invejável trajetória que soube construir.
A obra de seu bisneto André Moreira Rodrigues é essencial por todos os motivos. Só ele, já passados tantos anos do desaparecimento do Professor Fernando, poderia atar os elos da memória familiar aos da vida pública do educador. Uma grande aventura, temperada por uma pesquisa rigorosa.
O desafio se mostrava de grande complexidade, mas nada assustador para quem traz em seu currículo a autoria de publicações científicas, premiações internacionais, mestrado nos Estados Unidos e, não esqueçamos, a criação de um veículo apto a atingir velocidades extremas.
Se o leitor, assim como o autor desta obra, aprecia aventuras, não economize emoções. Posso garantir que a experiência valerá a pena, porque não há nada como sentir no rosto o vento que emana metaforicamente das páginas de uma biografia bem construída.
ERNANI BUCHMANN
ADVOGADO, JORNALISTA, ESCRITOR, EX-PRESIDENTE DA
ACADEMIA PARANAENSE DE LETRAS E PRESIDENTE DO
OBSERVATÓRIO DA CULTURA PARANAENSE.
Um ícone da educação em Curitiba
Nas páginas da obra "O Educador" temos a oportunidade de conhecer a trajetória de vida do professor Fernando Augusto Moreira. É dele um dos maiores legados para a educação em nossa cidade.
Mestre de muitos mestres, cidadão de prestígio e ciente de seu papel na sociedade, Fernando Moreira foi um ídolo para uma geração. Antes de se dedicar ao magistério, teve grande importância no jornalismo e na tipografia, comandando as mais influentes publicações da época, os jornais A República e Diário do Paraná.
No campo da educação, fundou a Escola Republicana, reconhecida pelos seus métodos didáticos inovadores e pela eficiência do ensino, e foi um dos precursores da criação da Universidade do Paraná. Apesar de desfrutar de grande notoriedade, o professor Moreira não acumulou riquezas, pelo contrário, fez da educação um sacerdócio. Acolheu os menos favorecidos, a quem garantiu acesso gratuito ao ensino.
Atitude essa reconhecida pelo escritor e filósofo Valfrido Piloto, um dos destacados alunos da Escola, que enalteceu os valores do professor Moreira que, com os recursos disponíveis, sempre estendeu a mão aos mais necessitados. Entre os nomes de destaque na cultura curitibana, assim acolhidos, está a professora e poetisa Maria Nicolas.
A vida do professor Moreira, grande personagem da nossa história, certamente enaltecida em outros registros, é agora contada pelo seu bisneto, o cirurgião-dentista, pesquisador, ex-professor universitário, André Moreira Rodrigues. Motivado pelas recordações e relatos familiares.
Temos a agradecer o feito do autor ao manter viva a nossa memória, perpetuando acontecimentos essenciais para a compreensão do nosso tempo. Era uma obra que faltava e agora supre a merecida homenagem ao professor Fernando Moreira. Nas palavras de Goethe, "o que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplanderá para sempre".
Rafael Greca de Macedo, Prefeito de Curitiba
