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PG 200 ANOS

CARTA a uma ALDEIA, 

que AMAMOS TANTO

por Eduardo Gusmão

 

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Vista do Colégio Regente Feijó para a Praça Barão do Rio Branco

 

  Quase tudo aquilo que pensamos um dia em escrever sobre esta cidade que nos proporcionou um chão para caminhar, ou um teto de céu incomum para observar astros e outros mistérios do cosmos, que nos acoberta como nenhum outro cenário igual considerado sob as lunetas de estudiosos da astronomia, ganha também agora quase a exata dimensão que trabalhamos para este momento tão especial na trajetória da comunidade ponta-grossense. Em matéria que nos remete outra vez ao universo da obra do russo Leon Tolstoi“conhece (e cante) a tua aldeia e

serás universal” -, entramos pelas veredas de quatro quadrantes que deram origem a Ponta Grossa, através de crônicas exclusivas a respeito do Centro, Oficinas, Nova Rússia e Uvaranas, assinadas por Miguel Sanches Neto, expressão da Literatura brasileira contemporânea, com passagens de ida e volta por aí, mas com residência fixa entre nós, felizmente, para nosso maior prazer.

   A cidade cresce a olhos vistos em meio àquela gente que a vive e constrói sua identidade, diuturnamente – e às vezes até mesmo incrédula por seus agentes políticos-, mas que não se encontra ainda sintonizada com aquela outra grande parcela da população, que, infelizmente, não tem ainda todo acesso à informação. Contextualizamos este instante pelo fato de que a cidade completa seu bicentenário, oficialmente, em meio a controvérsias de alguns historiadores de plantão. No entanto, vale a pena comemorar essa data, festivamente, quando Ponta Grossa se firma como potência socioeconômica em nível estadual e nacional, garantindo-se em rankings que a projetam como cidade inteligente em vários eixos como tecnologia, inovação, mobilidade e governança. Feliz aniversário (!) para esta cidade, adotada por todos nós que viemos de fora e a escolhemos para estudar, viver e trabalhar, fazendo jus ao título de Cidadão Honorário em prol desta comunidade que amamos tanto.

        

   Os Quatro Quadrantes

     Ponta Grossa comemora 200 voltas em torno do Sol, em 15 de Setembro. Como presente, convidamos o leitor à reflexão e a um passeio pelos bairros mais emblemáticos da cidade, em quatro belíssimas crônicas assinadas por Miguel Sanches Neto, também reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), em sua segunda gestão.

 

   Centro

   O centro de uma cidade não é apenas onde está o comércio ou onde os principais prédios se enfileiram - isso são apenas detalhes.

O centro da cidade é onde todos se encontram, pessoas se concentram, desejos se misturam. Centro é o movimento dos que trabalham, mas também dos que vagam em busca de não se sabe bem o quê neste labirinto de prédios e ruas estreitas – porque esta é uma cidade de outros tempos.

É nessas vias que faço caminhadas matinais ou vespertinas expedições a pé, contemplando casas com quintais de cimento, pomares de árvores velhas, lojas e suas vistosas vitrines, os cafés com todas as notícias (principalmente aquelas que não aconteceram), os bares tomados por uma sede profunda, os hoteizinhos suspeitos. Em meio a tudo isso, vago aspirando cheiros fortes que se adensam nesta cidade diurna que meus passos inadvertidamente frequentam.

À noite, percorro-a de carro, na companhia da família. Hora das avenidas iluminadas como corredores de um shopping a céu aberto, mas também de ruelas estreitas, casas de moradia com luz na sala de tevê, e roupas penduradas numa sacada qualquer dos muitos prédios residenciais em esquinas repletas de perigos, porque esta é outra e a mesma cidade.

A beleza do Centro é rude e barulhenta, é uma beleza de luzes e de seres lúgubres, de desfiles e de escândalos calados, de igrejas que nos purificam e palavras impronunciáveis.

Todos se conhecem no Centro, todos se reconhecem nele, mesmo morando em outros lugares. É a cidade pequena, com seus personagens, figurinhas fáceis e também difíceis. A Xuxa (in memoriam) dançando nos sinaleiros, o Serginho Lalau sempre em campanha para algum figurão, as viagens urbanas de Adilson Reis dos Santos (in memoriam), o poeta da Ronda, e também você e eu, peças que se movem neste tabuleiro mínimo e infinito.

Centro, cidade resumida, tempos sobrepostos, trajetórias cruzadas que se estendem por nossas ruas íngremes, levando-nos a todos os bairros para logo-logo deles nos devolver. Como uma ampulheta – enche e esvazia, esvazia e enche –, vai criando o calendário de nossos dias e meses.

 

 

CONFIRA ‘OFICINAS’ AMANHÃ NESTA SEÇÃO

 

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Antiga Catedral, situada na Praça Marechal Floriano Peixoto