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Crônica

Pitangui dos Originários

Bianca Lourenço Caputo

   Em tempos ermos, onde florestas de araucárias fechavam fronteiras, abraçadas umas às outras através de suas copas frondosas, quando a terra era quase silenciosa e o vento ditava as regras, o tilintar das águas do rio dentre as pedras talhadas chamava a atenção das aves que descansavam nas redondezas. As sombras das nuvens desenhavam o chão em formatos variados, cobrindo aqui e ali parte das águas correntes. Não era "um rio", mas sim "O Rio". Rio dos povos originários, contemplado e batizado por indígenas filhos da terra, filhos da certeza. Rio de fertilidade, que carregava em suas águas o vermelho da vida, da liberdade, dos frutos que alimentavam solos sagrados. Rio que, ainda hoje, traz no nome a pureza da contradição, imerso em extratos e purificação. Ali, submerso em sua correnteza, alimentado por suas nascentes e desaguando em forma de vida
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cristalina em algum mar não tão distante, está o frondoso Pitangui. Nada o silencia, pois é resoluto. Nada o amedronta, pois é a coragem personificada em forma de natureza, trazendo em suas entranhas a essência indígena da ancestralidade. Nada o limita, pois seus filhos são filhos da mãe terra em sua mais rica essência, a essência da contemplação esverdeada que, por ora vermelha, brilha sob a luz do sol de verão. 
   Pitangui, pai dos Guarani, é em si o próprio porto e o próprio desaguar. Começo, meio, mas nunca fim, pois faz em si sua morada.
Desde muito suas margens são acompanhadas de fé, envoltas pela energia da natureza e pelos cânticos daqueles que outrora protegeram as raízes. As raízes das plantas e as raízes de suas origens.  
Ali, às margens do Pitangui, os Guarani deixaram suas pegadas, memórias e lembranças. Banhados ao rio construíram história e futuro. Futuro em nome dos povos originários que do Rio fizeram mais que sua terra, fizeram sua essência.
Vida vermelha, vermelha como as águas cheias de lembranças. Rio Pitangui, protetor da história, ainda carrega em seus braços as correntezas e vozes da sabedoria.

 

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Texto de autoria de Bianca Lourenço Caputo, acadêmica de Serviço Social da UEPG, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).