Ao filosofar, Friedrich Wilhelm Nietzsche, em sua obra Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro, expõe, de modo incisivo, a vontade de poder, o que repercute na forma de pensar que ultraja a metafísica, tendo como prerrogativa a criação de valores para novos filósofos.
Pois bem, que se entenda a supracitada obra como um ventre livre para nascituros pós-modernos, em que o politicamente correto toma a forma de pensar celebrado por movimentos sociais, talvez menos conservadores, vanguardistas de uma expansão de pensamento livre e pautado nas relações humanas que rezam a perspectiva da renovação da ética e do comportamento das pessoas.
Inundando ainda mais a lacuna doutrinária da conceitualização política, os termos mais ascendentes e reconhecidos, embora “pouco conhecidos”, são Esquerda, Direita, Liberal. Arrefece-se, neste ínterim, a história da Revolução Francesa, aos idos de 1789 e a posição “estratégica” de “sentar-se” À Esquerda ou à Direita do poder dominante. Mas, e quanto aos liberais? Bem, esses traduzem, ao pé da letra, o sentido lato de liberalismo, ou liberalidade – para evitar acréscimos de ismos – em que o poder ajusta-se a si mesmo e acima de todos.
Mas, fica a pergunta como espectro: Afinal, o que seria a Esquerda se não houvesse a Direita? O pensamento oposto é verdadeiro no que se refere à Direita sem a Esquerda. O Liberal assim se intitularia se não fora proporcionado a si os dois sentidos tradicionais do pensar política?
O ávido leitor se indaga agora sobre qual o propósito do introito tão condensadamente conceitualizador! Bem, para toda história há um contexto. E a viagem apenas começa com um destino certo, certo?
Tudo isso posto à mesa, as cartas são lançadas com força e olhares voltados aos adversários para que, talvez, desvendem-se cacoetes que signifiquem blefes ou poder verdadeiro nas mãos.
Voltando a 2024, que já aparenta senescência, tem-se a propositura de que o supostamente novo poderá sobrepujar todas as forças “manipuladoras” do jogo democrático ou, até mesmo, devassá-las ao ponto em que o politicamente correto seria a não-política, ou algum ser biologicamente ainda não detectável nas categorizações científicas da academia.
Pois bem, fugir à doutrinação e à ideologização é uma coisa, mas demonizar a política, rotulando todo seu artefato material e imaterial como tradicional, ultrapassado e falido é um mal que a sociedade não deveria admitir. Explique-se bem este ponto: nunca foi a política que corrompeu os representantes democraticamente eleitos, mas as encardidas ambições de poder, as sujidades da malandragem em nome de um projeto de governo e não de Estado, as arremetidas de erosão no caráter, na moral, na ética, por mais que progressistas doutrinários julguem mal escolhido o termo moral, mas essa é a realidade conceitual palpável para explanar e observar os fatos.
Dito isso, corre-se, em 2024, o perigo da não-efetivação da representação do voto, por meio de sua anulação, da falta de perspectiva de ideal, da sensação de não-representação no campo macropolítico brasileiro, o que permitiria que os já manipuladores e jactosos políticos corruptos se hegemonizem e perpetuem no poder mediante seus nichos eleitorais.
O fenômeno dos outsiders, que cada dia mais engrossam a lista de pretendentes a cargos eletivos ganham espaço no dia a dia dos eleitores e asseguram a manutenção do status quo social, em nada “mudando” ou renovando, apenas alternando nomes e negando a própria política.
A negação da política é um campo extremo em que conservadores oportunistas e falsos progressistas politicamente corretos capitaneiam seus estreitos eleitorais e propagam veleidades dignas de um enredo Homérico.
Nesta perspectiva, o campo político não precisa de niilismos ideológicos, como se fosse possível aniquilar pensamentos e ideais. De igual modo não se pode permitir que se engendre na sociedade o sentimento de não-pertença ao mundo político, ficando alhures à participação necessária ao direito e dever de cidadão.
O Maniqueísmo no pensamento político não corrobora com a prática da boa política, pois esta se dá, de todas as formas; em casa, na administração adequada das finanças pessoais, na escola, no trabalho, no Estado Democrático de Direito e na Vida.
Pensar política é deixar de fora propagandistas, outsiders da negação da política, conservadores hostis e ultrapassados, oportunistas e progressistas que requerem para si toda a verdade.
Além do Bem e do Mal existe a política, com todos os seus representantes e representados, quer se queira ou não, mas a melhor forma de mudar algo que possa incomodar é justamente fazer parte da mudança, tanto no discurso como na prática