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Parole

Quem (se) suicida, morre!

Por Edgar Talevi de Oliveira

 

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    Não, prezado leitor. Este colunista não está abstraído de suas faculdades mentais, tampouco das arguições gramaticais! O fato é que, “de fato”, quem (SE) suicida, morre! Mas, como assim? Explico: o verbo suicidar, a princípio, não deve ser usado junto a um pronome reflexivo, neste caso, o SE. O termo é oriundo do latim SUI (a si), mais cida (que mata). O vocábulo suicidar, portanto, já significa “matar a si mesmo”. Sendo assim, em obediência às normas vigentes em nosso idioma, não “morramos” por inanição gramatical.

          Sigamos no mesmo tema. É, infelizmente, comum, ouvirmos/lermos textos em que autores recorrem a equivocidades gramaticais, tais como no exemplo seguinte: “Após o acidente, o piloto corre risco de vida!” Isso beira ao absurdo, pois risco à vida é algo altamente positivo. Concordam? O problema seria: “Após o acidente, o piloto corre o risco de morte!” O risco, neste caso, seria de morrer!

 

   Sempre que casos como os supracitados surgirem, não hesitemos em recorrer a bons autores. São muitos na Língua Portuguesa: Sérgio Monteiro Zan, Róbison Benedito Chagas, Evanildo Bechara, Celso Cunha, Eduardo Martins, Rocha Lima dentre outros. Deste modo, evitaremos gafes graves. Opa! Notaram que usei o verbo “hesitar”, sem hesitar? Isso porque o verbo está corretamente grafado, com “h”.

   Sigamos: sempre aparecem dúvidas quanto à escrita de palavras com “X”, “ch”, “s”, “z” etc. Provarei: a Língua Portuguesa dá-nos um verdadeiro xeque-mate! A expressão usada por mim neste sintagma corresponde a uma situação de jogo de xadrez em que o rei fica sob ameaça. Por analogia, dizemos que alguma pessoa ficou em “xeque”, está em “xeque” ou foi posta em “xeque”, nunca em “cheque”, pois o sentido seria de um documento bancário.
   Do mesmo modo, tomemos cuidado com a forma como tachamos outras pessoas. Se o fizermos, certamente implicará juízo de valor, e isso não é gentil. No entanto, tachar, com “ch”, está grafado corretamente. O opróbrio seria taxar alguém, pois aí teríamos o sentido de impor tributo. Observemos mais alguns casos: “Político é tachado de conservador”; “O governo taxou ainda mais os contribuintes”.
   Perceberam o quanto nosso querido idioma pode nos “trazer” benefícios semânticos se bem aplicado? Mas, isso se usarmos o verbo “trazer” com “z”. Se o sentido for o mesmo de “atrás”, seria necessário reformular a frase, com uso de outra classe gramatical: “Chegue para trás”; “Veio de trás”.
E, na aventura das crônicas gramaticais, passamos a limpo mais algumas lições que podem suavizar nosso caminho rumo ao conhecimento.
   Terminamos a semana com uma singela frase, de Vinícius Yamada: “Escrever mal tira a razão de qualquer um”.
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Edgar Talevi de Oliveira, licenciado em Letras pela UEPG; pós-graduado em Linguística,  Neuropedagogia e Educação Especial; bacharel em Teologia pela UNINTER; mestre em Teologia pelo SETEPE; membro da Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes; autor do livro Domine a Língua - o novo acordo ortográfico de um jeito simples, em parceria com Pablo Alex Laroca Gomes; autor do livro Sintaxe à Vontade - crônicas sobre a Língua Portuguesa; professor de Língua Portuguesa do Quadro Próprio do Magistério do Estado do Paraná; revisor profissional de textos acadêmicos; e articulista de diversos jornais municipais e estaduais.