TNOT - Em seus trabalhos como professor e pesquisador, ao longo de sua trajetória, qual foi o motivo que o levou a se interessar e pesquisar pela linguagem coloquial em Ponta Grossa?
HEIN- Bem, sempre me interessei por expressões idiomáticas, ou metáforas convencionais, nas línguas que estudei. Então, pouco tempo depois de defender minha tese de doutorado na USP – um estudo contrastivo de expressões idiomáticas do inglês e do português – chegou às minhas mãos um impresso intitulado Vocabulário Ponta-grossense: um glossário com o melhor do léxico de hoje, já hoje e sempre (2004), do então estudante de Jornalismo Elias Laskoski, em que ele lista e comenta, com extraordinário humor, algumas expressões típicas de nossa região. Adorei o trabalho, a ponto de ele me despertar o interesse de desenvolver uma pesquisa exaustiva sobre o tema, o que até tive a oportunidade de anunciar para o próprio Elias. Assim, me dediquei a esse estudo nos anos seguintes.
TNOT - Logo em sua primeira edição, Jacu Rabudo despertou notável curiosidade do público leitor nativo, fazendo com que sua obra se tornasse o primeiro best-seller ponta-grossense. Trocando em miúdos, como o professor explica todo esse sucesso do livro, que já se encontra em sua quarta edição?
HEIN - Com toda a honestidade, não imaginava isso, quando lancei o Jacu Rabudo. De qualquer maneira, me parece que, em geral, os ponta-grossenses se sentiram representados no meu livro, seja por usarem, em alguma medida, expressões coloquiais que nele figuram, seja ainda por reconhecerem nessas expressões a fala de pessoas de seu convívio. Ou seja, entenderam que o livro faz parte da nossa identidade. Outro fator que parece ter contribuído para o sucesso do livro é a forma como ele se encontra organizado, em pequenos capítulos temáticos, com diálogos, o que lhe confere certo vigor, com um toque de bom humor. Nada acadêmico, portanto, embora a pesquisa tenha sido acadêmica.
TNOT-Não dá pra deixar de perguntar, ou melhor, perguntar não ofende, principalmente, àqueles que não conhecem nada do linguajar local/regional: por que Jacu Rabudo como título de seu livro?
HEIN - Eu tinha comigo que o livro teria que ter como título uma expressão curiosa, instigante, quase obscena talvez, para
estimular interesse. Depois, e uma vez definido o título, a imagem que meu amigo Élio Chaves criou para a capa, de um jacu meio invocadão, de rabo enorme, “ornou” perfeitamente, produzindo um apelo ao mesmo tempo linguístico e visual. Ou seja, “caiu como sopa no mel”, para usar uma antiga expressão portuguesa certamente também capaz de aguçar a curiosidade daqueles que não estão familiarizados com ela.
TNOT - Inspirado em uma das expressões constantes em sua obra, No tipo!, que denomina este novo site de Informação & Cultura, pode sugerir também algum ressignificado além do que aponta Jacu Rabudo?
HEIN - Além de seu significado de muito bom, muito bem feito, a expressão No tipo! também remete a elementos gráficos, base da comunicação verbal, razão de ser deste novo site. Muito bem bolado!
TNOT - Entre outros achados como No tipo! em seu trabalho, há alguma outra expressão semelhante mais recente, caso suas fontes de pesquisa continuem a lhe dar elementos para mais uma edição de Jacu Rabudo?
HEIN- Não haverá um Jacu Rabudo II, porque se trata de um universo finito. Nas três edições que se seguiram à primeira fui incorporando uma ou outra expressão, mas a fonte secou. Avalio que novas inclusões serão raras.