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CRÔNICAS

Nunca gostei de pescar

Mário Francisco Oberst Pavelec

   Tem um ditado popular que diz “tá estressado, vai pescar”. Infelizmente comigo não funciona. Porém, meu pai era um pescador contumaz. Raramente comia o peixe, mas não perdia uma oportunidade de molhar as minhocas.

   Nas quartas-feiras, entre primavera e verão, o rio Caniú era o preferido dele. Descíamos até a Colônia do Lago, por volta das seis da tarde, quando ele saía do trabalho, com o liquinho (lampião a gás), ficávamos até por volta das oito horas da noite “tentiando” os bagres e os lambaris para ver se algum ia para casa conosco. O placar, quase sempre, zero a zero. Saíamos da beira do rio e íamos direto para a JAP tomar um banho de sauna com o Seu Adão, que nos esperava com o fogão de pedras bem quente.

  Nos sábados, não raras vezes, íamos para Porto Amazonas, no portinho, na fonte, na balsa, ou na mesa de pedra, para passarmos o dia. Quase sempre ele levava algumas cervejas, refrigerantes, pão, queijo e alguma salada, que satisfazia plenamente seu vegetarianismo. Aliás, tenho mais coisas para contar sobre a mesa de pedra. A seu tempo.

   Nos domingos, o passeio era no Recanto dos Papagaios, na BR 277. Enquanto a criançada divertia-se no Rio dos Papagaios, meu pai, com seus caniços, divertia-se enganando lambaris, carás e os bagrinhos fluviais. Nunca soube ao certo quem enganava quem.

   Onde me encaixo em tudo isso? Nunca gostei de pescar, tinha e tenho verdadeiro tédio em relação a estar à beira de

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um rio com um caniço nas mãos. Porém, tinha verdadeira adoração naquele homem que mancava com a perna direita, pouco cabelo, e cujo passatempo e relaxamento preferido era a pescaria. Nunca fui pescar, mas sempre fui acompanhar meu pai em suas aventuras.   

   Estar com ele, passar em conjunto alguns momentos de paz e tranquilidade, pelos seus preceitos, era, para mim, o ápice de um relacionamento afetivo entre pai e filho.

  Tirar as minhocas, naquele canto preparado no fundo do quintal de casa, arrumar as varas, colocar os anzóis, chumbadas, boias e penas, arrumar as tralhas para que nada desse errado, eram momentos ímpares, deliciosos, curtidos pelo pequeno garoto que gostava de estar com seu pai.

   Quantas vezes deixei os caniços na beira do rio, sem isca, para não ter o trabalho de sondar se os peixes haviam mordido o recheado anzol e ficava perto de meu pai, assuntando, afim de entender o mundo e a vida. Ele, às vezes me dizia: “fica quieto, piá, senão espanta os peixes”.

   Levar para casa um ou dois lambaris ou carás era a verdadeira glória!

 

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Texto de autoria de Mário Francisco Oberst Pavelec, técnico em agropecuária, natural de Palmeira, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).