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PG 200 ANOS

CARTA a uma ALDEIA, 

que AMAMOS TANTO

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Pavimentação da av. carlos Cavalcanti

Uvaranas

por Miguel Sanches Neto

 

    Uma cidade-montagem, que se organiza de forma imprevisível, revelando-se em pedaços recortados a partir dos mirantes em que nos encontramos, e que assim vai costurando parte do centro com os campos, matas cerradas com uma fábrica, um prédio solitário com um capão de araucárias.   
Nenhum lugar mostra melhor tais possibilidades de composição de uma urbe que se embaralha do que as imediações de Uvaranas. O bairro se espraia em faixas estreitas pelas linhas mais elevadas da paisagem, margeando o rural ali ao lado. 
  Caminho para os marcos da natureza (Buraco do Padre, com o perdão da má palavra, Alagados, nossa vila-balneário, paraíso dos pescadores sem pecado, quedas do Rio São Jorge, igrejinha de Santa Bárbara, onde talvez um dia eu me case, Cachoeira da Mariquinha, chorando dia após dia), nós nos internalizamos por Uvaranas, esse nome de árvore de rude e rútila ressonância, que tanto estranha a quem por aqui se enfronha. Mas que logo se amansa, lembrando-nos de varandas – Ah, varandas de Uvaranas -, comunicação com belezas tantas. Quando a palavra faz parte de nosso vocabulário mais íntimo, já somos da cidade em definitivo. Quem, vindo de longe, pronuncia este nome sem a menor estranheza é porque venceu distâncias estrangeiras.   
   No fim do bairro, um dia existiu um monumento que era para ser arte moderna, virando trash, uma araucária estilizada que o povo batizou de merda. Com isso, deixou-se claro que diante de nossa onipresente natureza não se admitem réplicas.
Cantava um seu morador que de Uvaranas nos vem o sol, que insiste em se pôr na Ronda. Então, escancaremos janelas para as manhãs de Uvaranas.

 

 

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Uvaranas 1972