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Ponta Grossa também é polaca

por Ulisses Iarochinski

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Igreja dos Polacos

    A Ponta Grossa dos duzentos anos também é polaca. Muitos são os que tentam esconder esta característica, que é intrínseca do modo de ser do ponta-grossense. Pouco falam, pouco exaltam, mas...ah! se o censo do IBGE acrescentasse em suas perguntas ao morador a pergunta: “qual sua origem étnica?” A cidade ficaria perplexa de quantos habitantes seus são descendentes de imigrantes polacos. Não há por que escondê-los. Os polacos são a cara cultural de Ponta Grossa. A história está aí para provar. Negar é esconder os olhos com peneira.
E contra registros, fatos, não há fake news que resista à verdade. A expansão do plano de colonização de imigrantes europeus, na região dos Campos Gerais, começou no final da década de 1870 e parte da década de 1880. Primeiro foram as colônias de Palmeira, Quero-Quero e Papagaios Novos, que abrigaram não só os imigrantes alemães oriundos das margens do Rio Volga na Rússia, mas também pelos polacos.

 

   Ainda, em 1877, foi fundada a colônia Terra Nova, com alemães e polacos, em Castro; em 1878, a colônia Octávio, na Linha Taquiri, com alemães do Volga e polacos; e as colônias Tibagy, Guaraúna, Uvaranas, Floresta, Eurídice e Moema, em Ponta Grossa. Esses primeiros imigrantes receberam a companhia, em 1890, de 25 famílias polacas da região Volínia, na Polônia ocupada pelo Reino da Rússia. Os novos foram estabelecidos na Colônia Santa Clara. As colônias Santa Cândida, Santa Clara, Iapó, Agostinhos e Russos, em Castro, começaram a receber novos imigrantes, em 1885.

   A verdade é que, muitos desses considerados alemães de Castro, Palmeira e Ponta Grossa, eram mesmo polacos, que portavam documentos de viagem expedidos pela Alemanha. A exceção foi Moema, em Ponta Grossa, que foi formada apenas pelas 26 famílias polacas com 84 indivíduos. As estatísticas nas demais colônias sempre foram imprecisas, justamente, devido às documentações nem sempre corretas que portavam os imigrantes. Registros orais dão conta de que esses polacos da Colônia Moema eram procedentes da zona rural de Tarnów, cidade muito próxima a Cracóvia.

Nas demais colônias de Ponta Grossa, aqueles imigrantes foram assentados nas colônias Eurídice (23 polacos), Taquary (125 polacos), Rio Verde (78 polacos), Botuquara (73 polacos), Itaiacoca (48 polacos) e Guaraúna (140 polacos). No município de Ipiranga, foram assentados na Colônia Adelaide 99 polacos e na Colônia Floresta, outros 29 polacos. Os imigrantes polacos nos Campos Gerais, segundo Albert Elfes, têm uma grande participação na formação étnica do Paraná. Entretanto, afirma ele, que “[...] esta imigração não foi registrada oficialmente e nem aparece nos anais da estatística [...]” (ELFES, 1973. p.26), pois, no período da emigração para o Brasil os polacos estavam sob o jugo dos reinos da Prússia (Alemanha), Rússia e Áustria. Segundo Elfes, essa situação refletiu nas relações entre alemães e polacos no Paraná: “muitos alemães e polacos continuaram aqui, no Brasil, suas rixas importadas da Europa” (ELFES, 1973. p.28).

   Para Albert Elfes, as colônias Santa Clara, Leopoldina e Iapó, em Castro, em função dos casamentos dos polacos com outros grupos étnicos de brasileiros, tais como italianos e mesmo com alemães, “[...] não conservaram mais suas características originais” (ELFES, 1973, p. 30). De acordo com Elfes, embora os polacos não tivessem se destacado como grandes produtores agrícolas, “[...] sua localização nessas áreas tem sido, eminentemente, útil para a formação étnica da região e para o desenvolvimento da classe do pequeno agricultor” (ELFES, 1973, p. 31)”, isto muito em função de que os lotes coloniais recebidos por eles eram muito menores do que as grandes extensões de terras dos latifundiários locais de origem portuguesa.

   O pesquisador ponta-grossense Francisco Kaiut (Kajut em polaco) identificou em certidões de óbitos, de janeiro a abril de 1891, nas colônias de Ponta Grossa, os imigrantes polacos:

 

1.Angielski,

34.Józef Traleski,

2.Tomasz Demogalski,

35.Maciej Urbański,

3.Tomasz Basiński,

36.Jan Wiśniewski,

4.Feliks Głapiński,

37.Michał Wiczkowski,

5.Józef Grabowski,

38.Albert Zagobiński,

6.Anastazy Grzebiłucha,

39.Józef Skaliński,

7.Wincent Grzebiłucha,

40.Anton Lewandowski,

8.Wawrzyniec Hojnacki,

41.Jan Bryl,

9.Filip Jaszewski,

42.Józef Dobrzyński,

10.Józef Jędrzejczak,

43.Michałowski,

11.Mateusz Jędrzejczak,

44.Garczykowski,

12.Bartłomiej Kwistkosz,

45.Stajszczak,

13.Michał Krzesiński,

46.Strzałkowski,

14.Stefan Kamiński,

47.Pieczak,

15.Józef Marciniak,

48.Przybiłski,

16.Ludwik Marciniak,

49.Światkowski,

17.Walenty Milenkowski,

50.Wojciechowski,

18.Józef Nidziela,

51.Kajut,

19.Jakub Nidzielny,

52.Święch,

20.Jakub Nowacki,

53.Spałski,

21.Walenty Nowakowski,

54.Światkowski,

22.Jan Pietrosiński,

55.Witkowski,

23.Jakub Piłarek,

56.Pietroszyński,

24.Józef Kosiński,

57.Kanarski,

25.Stefan Krzytelny,

58.Kresiński,

26.Marcin Semigaski,

59.Marcinkowski,

27.Józef Stachowiaki,

60.Matuczak,

28.Andrzej Stankiewicz,

61.Dobrzyński,

29.Wacław Stankiewicz,

62.Laszyński,

30.Andrzej Suczak,

63.Wojnarowski,

31.Michał Szymański,

64.Orlowski,

32.Melchior Szymański,

65.Kowalski,

33.Franciszek Talar,

66.Nadolny

 

No censo de 1920, quando a etnia polaca, pela primeira vez, apareceu especificada, o cônsul geral da República da Polônia, em Curitiba, Kazimierz Głuchowski, contabilizou, em Ponta Grossa, na colônia Eurídice 23 polacos, na Taquara 125, Rio Verde 78, Butuquara 73, Itaiacoca 48, Guaraúna 140, Adelaide 97 e Floresta 29, totalizando 613 polacos. As 765 famílias de polacos estavam em diversas colônias espalhadas em 20 localidades:

 

População polaca em Ponta Grossa em 1920

 

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Fonte: Kazimierz Głuchowski / 1927

Assim, está mais do que na hora dos polacos de Ponta Grossa levantarem a cabeça e, em alto e bom som, cantarem: A cidade aqui, fomos nós também que fizemos.

Ulisses Iarochinski, jornalista, professor, radialista, ator, diretor, mestre em Ciências Culturais, natural de Monte Alegre/Harmonia (Telêmaco Borba) e escritor de diversas obras, entre as quais Polacos do Brasil- a etnia em números e sobrenomes, seu último livro, do qual se extraiu esse texto entre as páginas 444 e 450