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Parole

A Terceira Guerra Mundial
já começou há algum tempo

Por Edgar Talevi de Oliveira

 

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    A temida Terceira Grande Guerra já teve início, mas, devido à nossa Ocidental e capitalista visão de mundo, passou despercebida. O marco do Terceiro Conflito Mundial foi a criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar liderada pelos Estados Unidos da América, em 1949, com o objetivo, em tese, de unir países contra eventuais agressões da União Soviética.
    Inicialmente formada por 12 membros-fundadores, a aliança se expandiu e hoje conta com 30 membros que assinaram um pacto de defesa mútua, estipulado pelo artigo 5º da entidade.
      Orientados e “desorientados” pelos Estados Unidos, os países que aceitaram ceder suas insígnias ao conglomerado, deram legitimidade à política expansionista e imperialista americana, por meio de força militar e, não obstante, perpetuação do Capitalismo Ocidental, de modo a arrefecer quaisquer tentativas de dissuasão de interesses
geopolíticos, humanos e sociais que arrefecessem o poderio cultural do Ocidente (leia-se EUA) na Geografia Humana Mundial.
    Desde então, a aculturação prevalece - “legítima” -, desde que revestida do politicamente correto, no espectro econômico liberal, conservador e ortodoxo na ótica do mercado, neoliberal desde o Consenso de Washington, de 1989, com vistas à hegemonização do modus operandi do Paradigma doutrinário político americano.
     Do outro lado do mundo, com a queda do governo de Stálin, uma série de transformações abriram portas para o fim da centralização política promovida pelo Stalinismo. A burocratização do governo soviético, ao longo dos anos, piorou, deflagrando inapetência social, política e econômica no grande país comunista.
     O golpe mortal na URSS ocorreu aos 29 de agosto de 1991. Com a “excomunhão” da União Soviética, as nações que compunham o bloco começaram a exigir autonomia política de seus territórios. Letônia, Estônia e Lituânia foram os primeiros países a declararem independência do bloco. Chegou ao fim a maior e mais ousada tentativa comunista da história.
    Destarte, o mundo ainda colhe uma guerra fria permanente, embora não necessariamente belicosa, mas beligerante do ponto de vista pós-moderno, a saber, da informação. Ao analisar o estratagema americano pós-segunda guerra mundial, por meio da criação da OTAN, os discursos pró-capitalismo ascenderam ao ponto em que passaram a ser Sacralizados, no sentido mais lato possível. Inevitável não perceber a celeuma em torno da “libertação” que a americanização traria ao mundo em meio a crises que o próprio capital alastra e permite.
    “Enxugar gelo” seria uma metáfora estapafúrdia, mas correta, sob a ótica de que arrogar aos EUA o poder de promover a liberdade de um mundo cada vez mais envolvido em conspirações por poder - o golpe militar de 1964, no Brasil, apoiado pela CIA, comprova a tese -, é, no mínimo, crassa ingenuidade, pois ser livre sobre as asas da dependência econômica, militar, paradigmática, ideológica e social de um país cuja metodologia expansionista e imperialista se provou poderosa e eficiente para dominar a lógica do discurso totalitarista predominante no Ocidente pós-moderno é ledo engano e mero apedeutismo.
O plano Marshall, que uniu a Europa e “estendeu” a mão americana a ser beijada em prol do “Estado de Bem-Estar Social” comum, unificou em torno dos EUA 16 países, dentre eles a França, Holanda, Alemanha Ocidental, Reino Unido dentre outros. Nenhuma surpresa se percebe na retórica dos dias atuais em favor de Biden e seus asseclas. Todas as peças do xadrez foram cuidadosamente movimentadas ao longo de décadas a fio de muita “política” e discursos de liberdade e autonomia.
   Chegamos, enfim, à guerra contra a Ucrânia. O despotismo americano encontrou, na figura de Vladimir Putin, competidor páreo o suficiente para suscitar desvio de rota ao imperialismo ora vigente.
Asseguro que a guerra, seja qual for, sempre será o último recurso a ser utilizado, sendo o pior cenário possível, implicando agressão descabida a inocentes que nada têm a ver com os interesses de potências militares e políticas que querem tão somente garantir poder e redimensionar seu território para além dos domínios já existentes.
   A Ucrânia, disputada pela OTAN, principalmente pelos EUA, na obstinação de alavancar maior poderio e influência internacional, está sob fogo cruzado: de um lado, o fogo militar já lançado contra suas bases, pela Rússia, em movimentação desumana, como toda guerra de fato é. De outro, pelo oportunismo americano de ampliar seu “território” justamente na fronteira da Rússia, chamando a Ucrânia para participar da OTAN. A intervenção militar era questão de tempo. O Kremlin se preparou para isso há muitos anos.
   A Rússia, tendo sua fronteira com a Ucrânia desejada pela OTAN - leia-se EUA -, preparou reservas internacionais estimadas em 700 bilhões de dólares. A dívida interna da Rússia equivale a 18% do PIB, o que significa que as sanções bancárias contra si não terão efeito significativo.
   Os EUA, especialmente sua alta cúpula, Joe Biden, precisa absorver o impacto da perda “territorial” vivida nestes dias, já que entrar em guerra por um país que ainda não é membro da OTAN é ideia descartada, ainda mais em se tratando de uma potência nuclear, como a Rússia. Disparar mísseis contra um país que detém mais de 6 mil ogivas nucleares seria levar o mundo ao caos e à destruição sem precedentes.
Reafirmo que a Rússia erra eticamente, moralmente e humanamente em promover a guerra, matando milhares de civis, causando destruição, medo, fome, além de tantas outras atrocidades que seria impossível enumerar. Todo apoio neste momento ao povo Ucraniano ainda é pouco. A Ucrânia precisa ter seu território, seu povo, sua história, cultura e legado preservados, respeitados e exaltados, e não destruídos por interesses espúrios de um ditador como Vladimir Putin. À Ucrânia e seu povo, todo respeito e admiração.
   Mas, o que o mundo presencia, é a Terceira Guerra Mundial em ação. Não estamos falando de lançamento massivo de mísseis nem de ogivas nucleares - ao menos e, felizmente, não por enquanto -, mas da guerra de informação, de ideologia, de neocolonização e de neoimperialismo.
   Se não há comunismo à vista, o anticapitalismo avança, mesmo em contrariedade a si mesmo. A disputa pela informação e pela retórica de como o conflito está acontecendo será o divisor de águas para as novas gerações, que contemplarão uma nova geografia humana e territorial. O que é de quem? E quem é quem no mundo? Eis as perguntas que deverão ser respondidas pelo tempo.
   Resta-nos aguardar para ler, nas páginas dos livros de história, principalmente nos livros didáticos do futuro, a repaginação do poder na Terra. Estamos presenciando a história sendo vivida. Aos poucos, o discurso da vitória será timbrado com a marca do vencedor.
   Voltando à guerra, não só a Ucrânia, mas todos nós perdemos nesta disputa. Vladimir Putin se manterá no poder; Biden se esquecerá, e o mundo se reconfigurará. Porém, os mortos na batalha desumana, pela senescência e loucura dos déspotas, ressuscitarão a fúria e a tristeza dos vivos.
   Sábio foi o Papa João Paulo II, que nos deixou uma frase singela e singular como legado: “Nem sempre a guerra é inevitável. Ela sempre é uma derrota para a humanidade”.
   E, poderoso é o discurso daquele que tem todo o poder, mesmo assim nos dá a chance de escolha, a saber, Jesus Cristo: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. (Mateus 5:9 ARA).
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Edgar Talevi de Oliveira, licenciado em Letras pela UEPG; pós-graduado em Linguística,  Neuropedagogia e Educação Especial; bacharel em Teologia pela UNINTER; mestre em Teologia pelo SETEPE; membro da Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes; autor do livro Domine a Língua - o novo acordo ortográfico de um jeito simples, em parceria com Pablo Alex Laroca Gomes; autor do livro Sintaxe à Vontade - crônicas sobre a Língua Portuguesa; professor de Língua Portuguesa do Quadro Próprio do Magistério do Estado do Paraná; revisor profissional de textos acadêmicos; e articulista de diversos jornais municipais e estaduais.