A globalização afetou em diferentes graus a comunidade internacional e a economia mundial, tornando o comércio um desafio a ser superado por investimentos internos e pelo desarraigamento da dependência de produtos que compõem os principais métodos de sustento da indústria e do PIB.
Para que se tenha noção do caso brasileiro, a China, nosso principal importador de “commodities”, responde por 28,1% do total das exportações brasileiras. A soja, por sua vez, obtém um mercado de 78,43% de toda a sua produção destinada ao mercado chinês.
Tais números refletem, necessariamente, a dependência econômica brasileira das exportações dos produtos alimentícios e a falta de um processo industrial interno que possa fazer frente ao mercado internacional.
A aceleração dos preços jamais poderá ser vista, nesses moldes, como um processo isolado ou como política de governo apenas. Isso seria, no mínimo, simplismo ou demagogia ideológica. O mecanismo pelo qual se precificam os alimentos e as demandas internas de um país continental, tal como o Brasil, é a massa macroeconômica que atinge multifacetados setores da economia, sobrepondo impostos e culminando na inter-relação entre preço-indústria-emprego.
Nesta perspectiva, a partir de 2020, quando a economia parecia ganhar certo fôlego após a derrocada vivida de 2016 em diante, surgiu a pandemia da COVID-19, gerada primacialmente na China, o nosso principal exportador de “commodities”. Por conta disso, houve uma estagnação no setor industrial interno, gerando desemprego. Após o longo período pandêmico, tivemos a guerra da Ucrânia, que teve cerca de 20 milhões de toneladas de grãos acumuladas, sem escoamento, o que mexeu com os mercados internacionais, afetando, de igual modo, o Brasil.
Tais tratativas globais não passaram inertes à expansão e navegação brasileira no mercado, pois a safra brasileira de grãos não teve destino certo, e a falta de insumos, bem como de incentivos à indústria, culminou na inflação, no desemprego e na alta dos preços.
Existe, sim, culpa dos governos, tanto estaduais quanto federal, no que se refere à ausência de uma profunda reforma tributária, que neste ano de eleições sai da agenda dos governos devido à estranheza que possa causar no eleitor e ao consequente desgaste eleitoral. Mas é necessário dizer que, sem uma regulamentação adequada e ampla da reforma tributária recém aprovada que simplifique, na prática, os impostos, principalmente o ICMS, que é díspar entre todos os entes da federação, não se chegará ao ponto em que o Brasil verá novos dias na indústria e na acumulação de bens que propiciem alívio da gigantesca dependência das “commodities”.
Salvo ledo engano, o Brasil parece padecer de uma pandemia avassaladora a cada quatro anos, quando as eleições estaduais e federais majoritárias tomam o pleito e as ruas. A agenda econômica se torna inamovível e, desde então, sucumbe às intempéries do mercado especulativo e se arrazoa, internamente, sobre a pressão ideológica que poderá prevalecer após a eleição.
Salvar a pátria das ideologias é, sobretudo, crescer internamente e proteger o mercado alimentício, o nosso grande patrimônio, para que o país finalmente encontre mais uma vez o caminho do crescimento e dos preços justos.